Quem é você: O juiz ou a agente de trânsito?

O que o caso da agente da Lei Seca e do juiz João Carlos e a lição da Escola Sabatina dessa semana têm em comum?

Acompanhe a leitura e descubra

Há alguns dias o país entrou em verdadeiro estado de revolta e perplexidade ao saber do caso da agente de trânsito Luciana Tamburini. Para quem não ficou sabendo do caso, em uma noite de fevereiro de 2011, policiais que faziam uma blitz da Lei Seca pararam um carro  sem placa. Os policiais fizeram os procedimentos de praxe. O motorista, o juiz de direito João Carlos Corrêa, estava sem a carteira de habilitação, mas no teste do bafômetro ficou provado que não ingerira álcool. Como o carro e seu condutor trafegavam ilegalmente, os policiais aplicaram a multa devida e iam rebocar o veículo para o depósito, quando o motorista disse que era juiz de direito e que o carro não poderia ser levado. O jovem policial foi até a agente Luciana Tamburini, chefe da blitz, que prontamente disse ao militar: “Ele pode ser juiz, mas juiz não é Deus. Apreendam o carro”. O juiz ouviu o que Luciana dissera e deu-lhe voz de prisão, exigindo que a mesma entrasse no carro da polícia para ser autuada na delegacia. A jovem recusou-se a cumprir a ordem do juiz, mas todos foram parar na delegacia. (Fonte: G1, clique aqui para saber mais sobre o caso).

Esse notório fato me fez refletir bastante ao estudar a lição da Escola Sabatina desta semana. O verso áureo, e sobre o qual faremos a nossa reflexão, encontra- sem Tiago 4:12 “Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir. Mas quem é você para julgar o seu próximo?. O que tem de interessante nisso e qual a correlação exata entre os fatos? Bom, basta olhar o relato acima. A agente de trânsito ao tentar cumprir seu dever, de advertir e penalizar a quem estava infringindo a lei, foi ela mesma penalizada por aquele responsável por fazer valer essa mesma lei no país, sendo que este é que era o real infrator da ocorrência.

Novamente pergunta-se, o que tem isso que ver com a lição?

Fiquei pensando no tanto de gente que irá “estudar” essa lição e chegará `conclusão de que (1) não se deve ouvir repreensão de outros, pois os mesmos também são pecadores e não têm o direito de “julgar” ninguém, e (2) não podem repreender e advertir ninguém pelo pecado pois Juiz verdadeiro só há um. Essas ideias são bastante comuns e cometidas por aqueles que leem versículos como aquele acima e outros como Mateus 7: 1-5. O que muitos não sabem, ou até mesmo não fazem questão de saber, é que não era a intenção de Jesus ou de Tiago fazer com que as pessoas deixassem de ser repreendidas ou até mesmo repreendessem a outros, ou discernir entre o certo e errado.

Mas, vamos com calma.

Primeiro é preciso saber o que quer dizer o “julgar” para Tiago e Jesus. Os dois estão a falar sobre julgar os motivos e as intenções que levaram tal pessoa a cometer o delito ou pecado. “Jesus se refere de especial maneira ao feito de julgar as intenções de outras pessoas, não ao feito de julgar se suas ações são boas ou más. Só Deus é competente para julgar as intenções dos seres humanos porque só Ele pode saber os pensamentos íntimos dos homens (CBA, vol. 5).” Tiago segue a mesma linha de raciocínio de Jesus, basta olhar com cuidado sua carta. Ou seja, não podemos julgar se uma pessoa é má ou se estará perdida por conta da falta cometida, isso quem faz é Deus. Somente Ele é onisciente a ponto de conhecer as motivações do coração humano e o destino que compete a cada um. Ponto.

Porém, há ainda aqueles que mesmo não “julgando” como explicado acima, fazem questão de criticar e apontar publicamente os erros cometidos pelo pobre irmão que caiu em tentação. Mal sabem esses que são igualmente culpados do pecado de julgamento que somente Deus pode exercer. Sua censura tem o propósito de fazer mal, e muitas vezes procura encobrir seus próprios pecados criticando e expondo o pecado dos outros, sendo assim visto como mais santo, justo e reto do que aquele pego em erro. A esses Jesus não demorou a chamar de “Hipócrita!” (Mt7:5). Para Tiago, quem assim procede se coloca acima da lei moral e não acredita que essa mesma lei com que julga o pobre réu possa ser aplicada a ele em situação semelhante ou não (4:11). Nesse sentido, o hipócrita é tido como legislador e não como alguém que também deve guardar a lei, ou seja, não há lei que proteja o censurado e nem lei que condene seu espírito de crítica, como o caso do juiz João Carlos.

Por outro lado, nem a Bíblia e nem Jesus nos dizem que não devemos advertir ou mostrar que a pessoa está em erro quando assim percebermos. Muito pelo contrário, se soubermos do pecado devemos sim advertir e repreender ou então seremos tidos como culpados e cúmplices do mesmo pecado. Somos tão responsáveis por males que poderíamos haver reprimido, como se fôssemos nós mesmos culpados da ação” (Ellen White; Levítico 19:17). As Escrituras nos dão as diretrizes corretas para que a advertência seja bem acolhida e produza bons frutos. No discurso de Cristo lemos o primeiro passo para uma repreensão eficaz e que vise o bem do pecador.

 “Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.” (Mateus 7:5)

Esse é você com a trave no olho?

O que seria tirar a viga do olho? Em um sentido mais comum da interpretação bíblica, seria ver e analisar se a pessoa que irá repreender não cometeu um pecado igual ou pior do que quem será advertido. Contudo, Ellen White diz mais uma coisa a respeito de “tirar a trave” que nos fará refletir um pouco mais a respeito desse verso.

Enquanto não vos sentirdes dispostos a sacrificar o amor próprio e mesmo dar a própria vida para salvar um irmão em erro, não tirastes a trave do próprio olho de maneira a estar preparados para ajudar a um irmão. Quando assim fizerdes, podeis aproximar-vos dele, e tocar-lhe o coração. (MDC, p. 128)”

O segundo passo encontra-se em Galátas 6:1:

 “Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado.”

O texto é claro, deve-se repreender com mansidão e amor. Ninguém deve sentir-se envaidecido por estar na posição de advertir e o outro na posição de culpado. Antes, devemos mostrar tristeza pelo pecado cometido, como também amor, paciência e, principalmente, uma disposição de perdoar para com quem estamos lidando. Também devemos ter sempre em mente que também somos propensos a cair, isso nos fará pensar duas vezes antes de mostrar uma atitude de “sou mais santo” para aquele que errou. O zelo pela justiça jamais deverá ser maior do que a misericórdia mostrada, antes será moderado pela mesma. A disciplina também sempre será mesclada tanto pela firmeza como pela bondade para com o errante.

Para alguns, a repreensão seguida de uma mão estendida pode significar a salvação de suas almas.

“Pessoa alguma já foi conquistada de um caminho errado por meio de censura e acusações; mas muitos têm sido afastados de Cristo, e levados a cerrar o coração contra a convicção da culpa. Um espírito brando, uma suave e cativante atitude, pode salvar o errado, e cobrir uma multidão de pecados.” (MDC, 128)

“Não o exponhas (o pecador) à vergonha, contando sua falta aos outros, nem desonres a Cristo tornando público o pecado ou o erro de uma pessoa que Lhe usa o nome. Muitas vezes, a verdade deve ser francamente dita ao que está em erro; ele deve ser levado a ver esse erro, para que se emende. Mas não te compete julgar nem condenar. Não faças tentativas de justificação própria. […] Mas é ao que procedeu mal mesmo que nos cumpre apresentar o erro. Não devemos fazer disso assunto de comentários e críticas entre nós; nem mesmo depois de isso haver sido comunicado à igreja, achamo-nos na liberdade de o repetir aos outros. O conhecimento das faltas dos cristãos só servirá de pedra de tropeço para o mundo incrédulo. […] Ao procurarmos corrigir os erros de um irmão, o Espírito de Cristo nos levará a resguardá-lo quanto possível até da crítica dos próprios irmãos, quanto mais de censura do mundo incrédulo.” (DTN, p. 440-441)

Por último, mas não menos importante, deve-se sempre fazer uso da regra áurea encontrada em Mateus 7:12: Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas.

Infelizmente, nosso mundo e a igreja encontram-se repletos de “juízes” como o João Carlos, sempre dispostos a aplicar a Lei e julgar a outros, mas nunca a eles próprios. Estão sempre prontos a prejudicar e criticar pessoas como a agente Luciana, que sabem ser cumpridoras da Lei, mesmo que falhas, mas que têm plena consciência que essa mesma Lei é válida e aplicável a todos. Esquecem-se, porém, de um fato que Luciana lembrou muito bem, há um tribunal muito maior que os seus e um Justo Juiz que julga com equidade, nunca para impor medo aos pecadores, mas sempre visando o bem de Seus santos (Daniel 7:22).

Se o culpado em questão for um cristão autêntico saberá acolher a correção e procurará corrigir seu erro (Provérbios 12:1). Logo, a correção e repreensão no espírito de Cristo são úteis e devem sempre ser executadas, pois “quem converte um pecador do erro do seu caminho, salvará a vida dessa pessoa e fará que muitíssimos pecados sejam perdoados. (Tiago 5:20)

Fiquem todos na paz do Senhor e estudem bem essa importantíssima lição! =)

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