GOSTO É GOSTO, CADA UM TEM O SEU. OU SERÁ QUE NÃO? (Uma perspectiva cristã adventista sobre a unidade cristã, Parte 1)

Todos algum dia já ouvimos aquela famosa frase “Gosto não se discute, se lamenta”. Inclusive alguns de nós até mesmo já se utilizaram da mesma para encerrar algum debate caloroso em que não se quer dar o braço a torcer. Mas será que para nós, jovens adventistas, essa frase é realmente válida? Leia nossa reflexão sobre o assunto e descubra se o seu gosto pessoal tem estado acima do gosto de Deus. Boa Leitura! 😉

Vive-se atualmente uma época de relativismos. Nem mesmo mais os valores morais são absolutos. Cada aspecto de alguma coisa em debate muda dependendo da sua cultura, idade, local em que se mora, nível de instrução, etc. Quando se fala em gostos e opiniões aí é que a coisa se complica mesmo. Cada um tem sua preferência em músicas, roupas, livros, filmes. Uns gostam de rock, outros bossa nova, outros preferem trajes da moda, e outros um estilo mais conservador.

Porém, se tratando da vida do cristão convertido, em algumas coisas deveríamos concordar mais, entretanto parece que ultimamente tem sido mais fácil abrir novos templos com programas e atividades que agradem aos diversos “tipos” de crentes do que abrir a Bíblia e procurar encontrar a mesma base e princípios que possam ser utilizados por todos e com todos.

Por outro lado, outros ainda procuram tentar descobrir qual a vontade Deus sobre determinado assunto, mas ao ser contrariado ou advertido por Sua Palavra acabam por selecionar apenas as partes que mais lhe convêm. É como se alguns pensassem “O que eu gosto é normativo. O que eu não gosto é cultural e só servia para a época em que foi escrito”. Fazendo isso caímos no que, de acordo com o Pr. Alberto Timm, é uma “pseudo-aceitação” da Palavra de Deus. Quando isso acontece as Escrituras passam a ser apenas mais um guia místico espiritual do que um manual que deveria reger todas as áreas da vida do cristão.

Felizmente a Bíblia é um livro divinamente inspirado que ultrapassa os limites da cultura e seus princípios permanecerão por todos os séculos como nos diz o profeta Isaías:

“Seca-se a erva e cai sua flor, mas a palavra do nosso Deus permanece eternamente.” (Isaías 40:8)

Contudo, quando se trata de adoração a Deus não pode haver relativismos e espaço para gostos pessoais entre os crentes. Deus nos deixou Sua Palavra para que descobríssemos a melhor maneira de adorá-lo e colocássemos em prática Seus ensinamentos. Veja bem, quando falo em adoração não me refiro apenas ao culto na igreja, mas sim a cada ato relacionado ao cristão. (1Coríntios 6:19-20).

Adoramos a Deus nas músicas que ouvimos, em nossos hábitos alimentares, nas roupas que usamos, nos programas que assistimos, no modo como nos recreamos, e até mesmo no modo que evangelizamos (1Coríntios 10:31). Apesar de acharmos muitas vezes que não, Deus se importa com cada detalhe desses e, por isso, nos deixou princípios que deveriam reger nossas vidas e que faríamos por bem sempre procurar seguir.

Jesus nos diz que “aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João 3:3). Uma coisa é certa, quando um bebê nasce ele nasce sem nenhuma preferência. Ele não tem padrão moral nenhum formado, muito menos gosto sobre coisa alguma. Cabe aos pais ensiná-lo o que é certo e o que é errado, o que é bom ou que é mau. O modo de vida dos pais influenciará o modo de vida da criança. A mesma coisa deve acontecer com o cristão.

A partir do momento em que ele se converte a sua vida não pertence mais a ele, mas sim Àquele a quem decidiu seguir. Da mesma forma, os costumes de sua vida pregressa não devem ser os mesmos padrões para sua nova vida. Nesse sentido ele deve sempre procurar fazer as coisas que mais agradem a seu novo Mestre. O apóstolo Paulo explica bem isso em Romanos (Romanos 8:10-14; 6:14). Morre-se para o mundo, vive-se para Cristo.

Nós adventistas até costumamos cantar um hino muito bonito: “Eu quero ser Senhor amado como um vaso nas mãos do oleiro. Quebra minha vida e faze-a de novo. Eu quero ser um vaso novo” (Hinário Adventista, 502). Mas será que realmente temos deixado Deus nos moldar? Moldar nosso gosto pela música (inclusive pela música religiosa), nosso gosto por nossas roupas, moldar nosso gosto na alimentação, moldar nosso gosto inclusive pelo que é feito em Sua Igreja – estamos indo à Sua casa para adorá-Lo ou apenas para sermos agradados com o que se passa lá? Será que temos buscado a aprovação Dele nessas coisas, ou será que temos procurado apenas saciar nossos gostos e vontade pervertidos e egoístas?

Em debates sobre o que é certo ou errado levar em conta apenas a opinião ou gosto pessoal não se é muito confiável, ainda mais quando assuntos teológicos estão envolvidos e são o tema principal. O problema surge quando o gosto nos levar a abandonar critérios revelados por meros critérios pessoais e passamos a dar mais prioridade ao “Eu acho que” do que a um claro “Assim diz o Senhor”.

Somos originalmente moldados pela natureza pecaminosa, que se coloca sempre contra o que Deus revelou. Enganoso é o coração do homem nos diz o profeta (Jeremias 17:9). Nesse caso, não é qualquer coisa que curtimos ou admiramos que servirá para nós. Praticar ou assistir uma luta de MMA ou usar jóias é culturamente aceitável. Contudo, seriam essas atitudes apropriadas e dignas de um cristão? Como povo adventista, nós temos luz sobre esses assuntos para que possamos segui-la?

A Bíblia ultrapassa os limites das nossas vontades e procura mudar em nossa vida o que contradiz seus princípios. Como cristãos nosso modo de vida e preferências deveriam ser no mínimo parecidos. Se isso de fato acontecesse não se veriam tanto debates sobre que música é mais aceitável, que instrumento deve ser tocado, qual roupa é mais decente, qual liturgia é mais adequada.

Não sou eu que estou dizendo que nossas vontades devam ser iguais, mas o Espírito Santo nos adverte que sim, elas devem ser parecidas. Vejamos o que Ellen White diz a seguir:

“O cristão permanece em Cristo e se torna um com Ele. Nesta vida, quando as pessoas entram em relacionamento íntimo, seus gostos se tornam semelhantes e elas passam a amar as mesmas coisas. Assim acontece com aqueles que estão em Cristo: amam as mesmas coisas que Ele ama.” (RH, 11/09/1883). Ênfase acrescentada.

Unidade na diversidade é o segredo sempre. Nesse sentido, como fazer acontecer isso que a senhora White descreve acima? Como devemos agir após o novo nascimento? A resposta é seguir o conselho de Paulo em Romanos 12:2 :

“E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”

Atrelado a este mesmo pensamento encontramos um conselho parecido em Filipenses 4:8:

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.”

Não são nossos sentimentos que devem controlar nossas atitudes e gostos e sim nossa mente. Devo condicionar minha mente a ouvir músicas boas, comer alimentos saudáveis, assistir bons filmes, ir a lugares que me proporcionem um ambiente enobrecedor.
“A verdadeira religião leva o homem à harmonia com as leis de Deus — físicas, mentais e morais. Ensina o domínio de si mesmo, a serenidade, a temperança. A religião enobrece o espírito, apura o gosto e santifica o juízo. Faz a alma participante da pureza celestial.” (Patriarcas e Profetas, pág. 442).

Logo, no tocante a vida do cristão o gosto não é relativo. Não podemos relativizar a verdade. Devemos apreciar o Cristo apreciaria. A Bíblia deve ser nossa regra de fé e prática, bem como o Espírito de Profecia. Se a comunhão é do Espírito faríamos por bem, como povo escolhido, seguir os conselhos que Ele nos deixou nos Testemunhos de Ellen White. Fazendo isso alcançaríamos a tão almejada unidade cristã. Devemos orar para que o Espírito Santo nos ajude a sermos mais parecidos com Cristo e a nossos semelhantes. Que possamos ser vasos de barro dispostos a sermos moldados por nosso Oleiro.

“Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu. […] Eis que ,como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na Minha mão, ó casa de Israel.” (Jeremias 18:4,6)

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